Psicotropicus - Centro Brasileiro de Política de Drogas

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ethan Nadelmann fala sobre políticas de drogas no Brasil


Por Maíra Fernandes

Ethan Nadelmann, diretor executivo da Drug Policy Alliance, principal entidade americana que defende a reforma das políticas de drogas, esteve no Rio de Janeiro e foi presença marcante em eventos organizados para discutir o tema.
Sua primeira aparição foi no lançamento do website do Centro Brasileiro de Políticas de Drogas – Psicotropicus e da pesquisa “Tráfico e Constituição: um estudo sobre a atuação da Justiça Criminal do Rio de Janeiro e do Distrito Federal no crime de tráfico de drogas”. (Dentre as principais conclusões apresentadas pela pesquisa estão a constatação da primariedade dos réus, além de terem sido presos sozinhos, desarmados e com pouca quantidade de droga.)

Em sua fala, sempre provocadora, Nadelmann salienta que a criminalização das drogas atrapalha nossas vidas e  que estamos acostumados com um mundo onde existem drogas ilegais, mas não podemos aceitar isto sem questionar. E nos pergunta: “Alguém acredita que há mais ou menos 80 ou 100 anos atrás, uma comissão de especialistas se reuniu e chegou a conclusão de que álcool e tabaco são legais e maconha, cocaína e heroína são ilegais porque fazem mal à saúde?? Eu espero que não“, nos diz ele. Além de disso, é enfático ao concluir que o sistema penal é injusto quando encarcera usuários de alguns tipos de drogas e de outras não. O contínuo desrespeito aos direitos humanos no cumprimento da lei de droga nos mostra que o sistema é ineficaz, contraproducente e hipócrita.

Em conferência de abertura do Segundo Congresso da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas – Abramd, realizada no Centro de Convenções do Congresso Brasileiro de Cirurgiões, Ethan falou que “o desejo de alterar a consciência é universal e que o ser humano usa substâncias psicoativas desde que o mundo é mundo”. Além disso destacou as origens históricas e econômicas do Proibicionismo, e suas desastrosas conseqüências. Pedro Gabriel Delgado, atual Coordenador nacional de Saúde Mental, trouxe a experiência de Portugal para o debate, enfocando que a descriminalização do consumo não produziu um aumento no uso de drogas, ao contrário, o consumo se estabilizou em alguns lugares e em outros diminuiu.

Em debate no Globo, Nadelmann conversou sobre legalização das drogas com Maria Thereza Aquino, Diretora do Núcleo de Estudos em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Ele disse que, “não faz sentido nossos filhos e netos crescerem neste mundo, precisamos de criatividade para fazer com que as pessoas que usam drogas as comprem legalmente, é preciso separar as esferas do controle e do tratamento. Temos que lidar com o usuário de drogas no campo da saúde, respeitando os direitos humanos e com compaixão”.
E acrescentou: “O que mata acaba com a vida das pessoas é a prisão por porte de drogas. Isso mancha o sujeito com uma ficha criminal que certamente o estigmatizará para o resto da vida, e vai desestimulá-lo a ousar na vida. Barack Obama já admitiu que fumou maconha e usou cocaína na juventude. Se tivesse sido preso por isto, será que teria tido coragem para se candidatar a um cargo público? Provavelmente não. E hoje não teríamos o primeiro presidente negro da história dos Estado Unidos”

Sem dúvida, sua racionalidade e coerência deixaram saudade nesta sua rápida passagem.

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