Por Vera Da Ros
A participação de Ethan Nadelmann no Congresso da ABRAMD – Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas - permitiu que um público que pouco participa do movimento de reforma das políticas de drogas pudesse se aproximar da temática, já que ali eram maioria profissionais ligados à saúde, á prevenção e ao tratamento, como os de CAPSad e PSF ( Programa de Saúde da Família), à educação ou acadêmicos das universidades de várias áreas do conhecimento por ser um grupo multidisciplinar. Muitos destes profissionais tiveram a oportunidade de ouvir, talvez até pela primeira vez, um dos maiores especialistas e promotores da reforma das leis e políticas de drogas dos Estados Unidos e ainda serem instigados a conhecer mais sobre o trabalho de organizações que buscam mudar as leis sobre drogas e lutam pelos direitos dos cidadãos, como a Psicotropicus no Brasil.
As falas do presidente da ABRAMD, Dartiu Xavier da Silveira e do coordenador do Congresso, Marcelo Cruz, ambos psiquiatras e acadêmicos, foram muito afinadas com o movimento de redução de danos e apontaram a necessidade de integrar todos os segmentos nesse debate. Ethan Nadelmann ficou surpreso e admirado com as falas desses brasileiros pois, segundo ele, são discursos semelhantes ao dele. Pena que o Secretário Nacional sobre Drogas, que nessa abertura apresentou a SENAD e suas ações, não mais estava lá para ouvir Ethan, deixou a plenária logo após finalizar seu discurso. O coordenador do OBID – Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, Vladimir de Andrade Stempliuk , ali permaneceu representando a SENAD.
Ethan iniciou sua fala afirmando que esta seria provocativa: afirma inicialmente que não houve, nem nunca haverá sociedade sem drogas pois, sempre se descobre uma substância para alterar a percepção, ou mesmo danças circulares, rodopios ou até jejuns terão a mesma finalidade. E o futuro terá mais drogas, e serão mais disponíveis – e teremos consumidores educados e um judiciário com outro papel, diferente do atual.
Lembra a todos que, no século passado, quem usava opiáceos eram as mulheres da classe média com dores em geral ou com diarréia – era um uso liberado e apreciado.
O que mostra que o que torna a droga ilegal nada tem a ver com o perigo da droga e sim com quem usa a droga. Ou seja, quando uma droga é usada por uma classe social inferior, ou por minorias discriminadas ela passa a ter um status negativo e daí se torna ilegal e citou alguns exemplos na história que comprovam essa teoria (podemos deduzir que tornar ilegal uma droga é transformar o preconceito em lei ?!)
Terminou sua fala descrevendo uma cena hipotética (será?!) de que o cigarro seria proibido e sua compra/venda, rapidamente se tornaria tráfico e a ilegalidade começaria a atingir tudo. Depois exemplificou a mesma realidade só que com o café – o desejo por um cafezinho depois de uma semana sem conseguir beber um, faria com que se desse qualquer dinheiro para obtê-lo.
E a sua visão de futuro é um mundo no qual a política de drogas não seja mais baseada em ignorância, medo, lucro e preconceito e, sim, pragmática e baseada na ciência, na compaixão, na saúde e nos direitos humanos. E ainda faz um convite a todos aqueles que quiserem conhecer mais sobre política de drogas, que acessem o site da Psicotropicus.
A fala do Ethan foi paradigmática e envolvente pois, durante todo o evento, algumas frases ou exemplos dados por ele foram citados por vários palestrantes ou em conversas paralelas entre participantes, inclusive por ter afirmado que a SENAD não deveria continuar a ser coordenada por um general.
Edição e postagem Marisa Felicissimo
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