As capas dos jornais que chegaram às bancas na manhã desta sexta-feira retratam o dia 25 de novembro de 2010 como um marco no combate ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Telejornais da noite anterior ampliaram seu tempo de duração com um discurso de vitória na complexa luta do bem contra o mal.
O roteiro jornalístico limitado a abordagem das estratégias de combate acaba por descaracterizar a verdadeiro trabalho de uma política de segurança pública. Vender uma ideia de que o mal – representado pela figura do varejista de drogas – será vencido apenas com enfrentamento militar é desprezar a capacidade de raciocínio do cidadão, que infelizmente está caindo nesta armadilha midiática. Apoiado pela mídia e pela população do asfalto, o Estado segue reforça ainda mais as tropas para uma ofensiva que poderá entrar para história como o maior banho de sangue da cidade. Viajando até o futuro, provavelmente não haverá muitos motivos para comemorar o resultado desta ofensiva.
Não é preciso ser um especialista em segurança pública para perceber o deplorável estado das forças de segurança do Rio de Janeiro e de boa parte do Brasil. Tomadas pelo câncer da corrupção, partes das tropas que hoje enfrentam traficantes do Complexo do Alemão são as mesmas que compactuavam e lucravam com as atividades ilícitas realizadas naquela região.
Com bem disse o antropólogo Luiz Eduardo Soares em seu blog “ não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias”.
Fala-se muito na ocupação definitiva da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão como a mais eficiente estratégia de combate a criminalidade. Por mais que os traficantes do Comando Vermelho sejam “expulsos” do local, fica difícil imaginar que a verdadeira ordem pública seja instituída por uma tropa gravemente contaminada pela corrupção.
História semelhante ocorreu em um passado não muito distante quando grupos formados policiais e bombeiros assumiram o controle de regiões dominadas pelo tráfico. Esses grupos chegaram a receber o título de “autodefesa comunitária” pelo então prefeito Cesar Maia. Esta nova classe de poder paralelo hoje é conhecida como Milícia e seu plano de governo não é mistério para ninguém.
Um comentário:
Sou só eu que percebi a falácia da estratégia militar deles? Digo, sem entrar em todas as questões envolvidas no que é realmente combater o crime mas digo apenas na estratégia. Explico:
As imagens dos bandidos fugindo pela estrada no fundo da favela para a outra favela, é aplaudida e eu acho ridiculo - os caras estão atacando uma região em cunha onde só existe uma saída para fugir pra favela ao lado porque diabos não tinha uma barricada lá? A impressão que dá é que eles sabiam disso pas queriam fazer um show pra tv...
Aqui a gente sabe que a truculencia não resolve, mas já que partiram pela truculencia podiam pelo menos ter um minimo de capacidade de planejamento estratégico no ataque.
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