por André Barros
Num sábado ensolarado, ao cair da tarde de uma rara lua cheia, em plena Avenida Vieira Souto, mesmo com duas declarações do guardião da Lei Maior, o Supremo Tribunal Federal, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 187 e na Ação Direta de Inconstitucionalidade n.4274, dizendo que a Marcha da Maconha está amparada pela Constituição Federal, de repente, sem qualquer razão, o Bope pegou geral.
Ao anoitecer, a Marcha estava linda, quase alcançando o Coqueirão, onde estava programada uma grande festa na areia, quando, subitamente, do nada, sem qualquer motivo, pela contramão, realizando manobra violenta em alta velocidade, chegou a tropa de elite. Quatro caveiras quase deram um cavalo de pau no meio da multidão de dez mil pessoas, em atitude de evidente provocação, planejada para acabar com a Marcha da Maconha. Depois de lançada a primeira bomba, pouquíssimos objetos foram arremessados em reação e, logo em seguida, foram atiradas mais de cem bombas e tiros de balas de borracha de grosso calibre sobre milhares de pessoas, agredindo inclusive quem não estava na Marcha, já que era um sábado de lua cheia e de Viradão Carioca.
Setores de extrema direita deram seu recado: não se curvam nem ao Supremo Tribunal Federal, não aceitam a democracia que garante liberdade de expressão. Em sua visão, onde já se viu cantar e defender a maconha no Brasil? Mesmo com todos os avisos previamente protocolados na Prefeitura, 23º Batalhão de Choque e 14ª. Delegacia Policial, cumprindo o mandamento do inciso XVI do artigo 5º da Carta Política do país, tivemos problemas desde o início com a CET Rio, e por fim, com o Batalhão, que forçou o encerramento da Marcha com violência brutal e gratuita superior à das dispersões de torcidas organizadas.
Na Marcha, havia cadeirantes, senhoras de mais de setenta anos de idade, moradores e transeuntes do bairro. Em pleno cenário global da ‘elite carioca’, a extrema direita quis mostrar que ainda tem algum poder e sabe punir, afinal, o BOPE não chegou sem autorização. Nós temos o direito de saber de quem é a responsabilidade pelo desrespeito à Corte Superior. Mais impressionante ainda é o silêncio quase absoluto da mídia que, nas raras exceções em que relata o ocorrido, mente descaradamente, trazendo apena o olhar do BOPE e de quem acha que maconheiro tem que levar muita porrada mesmo.
Transformam, assim, vítimas em culpados e, como já se tornou habitual no imaginário carioca, pedem os aplausos à tropa de exceção.
Apesar de tudo, nossa pacífica e libertária Marcha da Maconha bombou muito mais que as bombas do BOPE. Sem qualquer divulgação desta mídia mentirosa, somente pelas redes sociais e pelo boca a boca, demos um espetáculo de democracia. Saímos vencedores e mostramos que não precisamos da propaganda do mercado para levar uma multidão de maconheiros e simpatizantes à rua. Vamos torcer pelo julgamento do nosso recurso extraordinário e que seja descriminalizado o uso, porte e plantio para uso próprio de maconha no Brasil. Sábado que vem, 12/05, concentração às 15h na Praia de Icaraí, Marcha da Maconha de Niterói. Vamos em frente!
ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha
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