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Rio de Janeiro, RJ, Brazil

segunda-feira, 7 de maio de 2012

CHOQUE BOMBARDEIA MARCHA DA MACONHA

por André Barros

Num sábado ensolarado, ao cair da tarde de uma rara lua cheia, em plena Avenida Vieira Souto, mesmo com duas declarações do guardião da Lei Maior, o Supremo Tribunal Federal, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 187 e na Ação Direta de Inconstitucionalidade n.4274, dizendo que a Marcha da Maconha está amparada pela Constituição Federal, de repente, sem qualquer razão, o Bope pegou geral.

Ao anoitecer, a Marcha estava linda, quase alcançando o Coqueirão, onde estava programada uma grande festa na areia, quando, subitamente, do nada, sem qualquer motivo, pela contramão, realizando manobra violenta em alta velocidade, chegou a tropa de elite. Quatro caveiras quase deram um cavalo de pau no meio da multidão de dez mil pessoas, em atitude de evidente provocação, planejada para acabar com a Marcha da Maconha. Depois de lançada a primeira bomba, pouquíssimos objetos foram arremessados em reação e, logo em seguida, foram atiradas mais de cem bombas e tiros de balas de borracha de grosso calibre sobre milhares de pessoas, agredindo inclusive quem não estava na Marcha, já que era um sábado de lua cheia e de Viradão Carioca.

Setores de extrema direita deram seu recado: não se curvam nem ao Supremo Tribunal Federal, não aceitam a democracia que garante liberdade de expressão. Em sua visão, onde já se viu cantar e defender a maconha no Brasil? Mesmo com todos os avisos previamente protocolados na Prefeitura, 23º Batalhão de Choque e 14ª. Delegacia Policial, cumprindo o mandamento do inciso XVI do artigo 5º da Carta Política do país, tivemos problemas desde o início com a CET Rio, e por fim, com o Batalhão, que forçou o encerramento da Marcha com violência brutal e gratuita superior à das dispersões de torcidas organizadas.


Na Marcha, havia cadeirantes, senhoras de mais de setenta anos de idade, moradores e transeuntes do bairro. Em pleno cenário global da ‘elite carioca’, a extrema direita quis mostrar que ainda tem algum poder e sabe punir, afinal, o BOPE não chegou sem autorização. Nós temos o direito de saber de quem é a responsabilidade pelo desrespeito à Corte Superior. Mais impressionante ainda é o silêncio quase absoluto da mídia que, nas raras exceções em que relata o ocorrido, mente descaradamente, trazendo apena o olhar do BOPE e de quem acha que maconheiro tem que levar muita porrada mesmo.

Transformam, assim, vítimas em culpados e, como já se tornou habitual no imaginário carioca, pedem os aplausos à tropa de exceção.
Apesar de tudo, nossa pacífica e libertária Marcha da Maconha bombou muito mais que as bombas do BOPE. Sem qualquer divulgação desta mídia mentirosa, somente pelas redes sociais e pelo boca a boca, demos um espetáculo de democracia. Saímos vencedores e mostramos que não precisamos da propaganda do mercado para levar uma multidão de maconheiros e simpatizantes à rua. Vamos torcer pelo julgamento do nosso recurso extraordinário e que seja descriminalizado o uso, porte e plantio para uso próprio de maconha no Brasil. Sábado que vem, 12/05, concentração às 15h na Praia de Icaraí, Marcha da Maconha de Niterói. Vamos em frente!

ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha

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