Psicotropicus - Centro Brasileiro de Política de Drogas

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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Reform 2009 – Ayahuasca: usos tradicionais e adaptações modernas

Relato do painel realizado na tarde de sexta-feira, 13 de novembro, 2009.
International Drug Policy Reform Conference, Albuquerque, Novo México.
Sala lotada, gente sentada até pelo chão, poucos latinos e muitos americanos de todas as idades.
O coordenador da mesa , o canadense Kenneth Tupper, University of British Columbia, Vancouver, inicia com a apresentação do tema e de todos os palestrantes com entusiasmo – reconhecidamente um estudioso apaixonado pelo tema. No final da mesa fala de sua tese de doutorado, que é sobre a ayahuaska.
O primeiro palestrante, o americano Dennis McKenna, professor do Center for Spirituality and Healing, University of Minnesota, Mineapolis -faz um relato sobre a ayahuasca desde os anos 80. quandocomeçou a estudar o tema. Ele visitou o Peru, lugar onde um pequeno grupo tradicional, não mais do que 15 velhos mestres continuava a manter a tradição. Hoje o número de pessoas envolvidas com o tema é muito maior, pois o turismo ayuhasqueiro fomentou o crescimento dessa cultura. McKenna mostrou fotos dos antigos mestres que o iniciaram no estudo, no saber sobre as plantas e no mergulho nessa experiência modificadora que é tomar o chá. Falou dos grupos no Brasil e do estudo que desde então vem fazendo – segundo ele “é um trabalho de uma vida” – além de demonstrar a formação molecular e os efeitos no cérebro do chá, apresenta também fotos da planta, da flor e de cultivo que fez no Havaí. Mas o que mais chama a atenção é a forma séria e apaixonada que faz seu relato, além de citar a cada momento pesquisadores, colegas ali presentes e que são profundos conhecedores da planta. Fala do poder de cura e de quanto ainda há de se descobrir dos efeitos e usos da ayahuaska. A platéia acompanha cada palavra com interesse e acenando positivamente coma cabeça todo tempo.
Em seguida a psicoterapeuta Diane Haug fez um depoimento pessoal de seu encontro com a ayahuasca como pesquisadora e a mudança que isso fez em sua vida.
A apresentação do convidado da Psicotropicus, Edward MacRae, antropólogo, professor da Universidade Federal da Bahia, Brasil, resgatou a história das religiões sincréticas no Brasil, a integração das religiões dos escravos e a dificuldade do branco em aceitar o que lhe era desconhecido. Explica que pouco a pouco se integram a umbanda e o candomblé em nossa cultura e ,atualmente, mesmo rejeitada por muitos já faz parte até do circuito turístico. Já o Santo Daime, originário de regiões muito distantes dos centros urbanos não era conhecida pela maioria dos brasileiros até 2 décadas atrás. Quando começou a ser difundida, o primeiro sentimento foi de rejeição e medo daquela droga desconhecida e com poderes perigosos. Pouco a pouco estudiosos e seguidores mostraram que tradicionalmente sempre foi usada por povos da região norte e dentro de rituais religiosos bastante protetores – relata a pesquisa oficial, da qual participou, realizada com famílias inteiras de seguidores do Daime – estudo que possibilitou a regulamentação do uso da ayahuasca no Brasil, inclusive para crianças e adolescentes praticantes da seita.
As perguntas sobre a possibilidade de uso medicinal e de tratamento das dependências, de como transportar a planta, dos usos rituais ou não, demonstraram claramente o interesse dos americanos pelo tema e chamou-me a atenção – com um respeito e curiosidade que me emocionaram – dentro daquele grupo e naquele momento ser uma brasileira era algo único e quase mágico.

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