Por Luiz Paulo Guanabara
Albuquerque, 11 de novembro de 2009
As pessoas estão começando a chegar, para quem trabalha no pantanoso campo das drogas é um privilégio participar dessa conferência promovida pela Drug Policy Alliance. Hoje já começou um treinamento pré-conferência em psicoterapia de redução de danos. O curso de um dia é conduzido pela psicóloga Patt Denning, autora do primeiro livro sobre a matéria lançado há uns 5 ou 6 anos atrás.
No final da tarde de hoje haverá uma cerimônia de boas vindas. A conferência começa amanhã com a participação do governador do Novo México na abertura. São diversos tópicos e inúmeras sessões – clique para o programa. João Pedro Pádua, representante da Psicotropicus, William Lantelme, do growroom.net e Edward MacRae da Universidade Federal da Bahia são palestrantes em diferentes sessões.
Ainda não sei se aqui no Novo México está em vigor o sistema de uso medicinal da cannabis. Estou vindo da Califórnia e fiquei impressionado com o sistema de carteiras de usuário medicinal, obtidas depois de avaliação médica. Qualquer problema com a polícia, é só dar uma carteirada e pronto – mais ou menos como a polícia é tratada no Brasil pelas autoridades. Só que nossas autoridades usam seu poder para se livrar de infrações e atos criminosos, os pacientes em tratamento com cannabis aqui nos EUA usam sua carteira para mostrar que estão dentro da lei, já que a planta ainda é proibida.
A maconha é comprada em dispensários que possuem sua própria produção ou compram de outros produtores para vender. Seu uso tem tido resultados excelentes para tratar depressão. Claro que isso não interessa à indústria farmacêutica, que vendem seus caros antidepressivos cujos efeitos colaterais em geral podem ser agudos, ao contrário da cannabis. (E as pessoas pensam que as drogas sao proibidas para proteger nossa crianças e por questões de saúde pública. Quanta ingenuidade!)
A maconha já é big business aqui no país que deflagrou a guerra às drogas e vendeu essa política para todo o mundo. Eles sabem ganhar dinheiro. Guerra às drogas significa venda de armas, e o maior produtor de armamentos do mundo não iria perder uma oportunidade dessa, de gerar conflito armado em nome da moralidade e dos bons costumes. E significa mais lucro para a Big Pharma.
No texto de debate do Transnational Institute entitulado “Mitos da Coca”, encontramos outro exemplo dos no período interesses da indústria: “É um mistério porque uma ameaça fictícia dessa ganhou tanta proeminência no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, numa época em que praticamente nao havia cocaína no mercado ilícito mundial, mas isso provavelmente teve algo a ver com a competição que as folhas de coca ofereciam à indústria farmacêutica americana.” Nessa época, a missão do ECOSOC/ONU ao Peru para avaliar o uso da coca foi presidida por Howard Fonda, representante dessa indústria (1+1=2).
Minha impressão é que a cannabis será regulamentada por aqui muito antes do Brasil. E quando os representantes da agro-indústria, políticos e demais autoridades se derem conta do que está acontecendo, já estaremos importando maconha dos Estados Unidos – ou de outros países da Europa. Como sempre, caminhamos atrás da história.
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