No blog do Eduardo - peço perdão por não saber seu nome completo – encontrei um artigo comentando o absurdo da repressão à Marcha da Maconha em São Paulo na semana retrasada. Ele falava também de crack, e sobre isso disse a ele – e eventualmente aos que leriam o comentário:
Eduardo,
Gostei do seu texto, parabéns, mas há um equivoco em relação às "cracolândias". Não se pode chamar de traficante aquele pé de chinelo que aparece distribuindo um punhado de pedras de crack. Senão vira bagunça. Aliás, a palavra "traficante" já perdeu qualquer definição. Tanto o Beira-Mar quanto a idosa de 70 anos vendendo 5 trouxinhas de maconha são "traficantes". Uma imprecisão inadmissível que gera barbaridades jurídicas que custam alto à sociedade. É impressionante como o judiciário brasileiro é uma fonte de prejuízo para o país.
Reconheço que é toda uma dinâmica difícil de entender, o crack na verdade é um problema menor em relação a todas as drogas, como explicou a diretora da SENAD em recente artigo na Folha - e como sabemos nós, que lidamos com isso diretamente no campo. É preciso também estar atento para as manobras interesseiras da indústria do tratamento da dependência química, que é contra a legalização da cannabis e a favor de uma pedagogia do medo - para obter mais pacientes e lucrar com a desgraça. Para eles, não existe fumar maconha ou usar qualquer droga ilícita sem qualquer prejuízo físico ou mental. Para eles existe somente abusar do uso da cannabis ou de qualquer daquelas drogas classificadas como ilícitas: para muitos desses médicos, quem fuma maconha ou usa drogas ilícitas – e até mesmo lícitas, como o cigarro - é necessariamente um doente. É preciso cuidado com esse grupo reacionário que visa ao lucro de suas clinicas, passando por cima de quaisquer comprovações científicas contrárias à sua ideologia e interesses.
O que vou escrever a seguir aconteceu posteriormente ao envio do meu comentário referido acima:
A repressão violenta dos Smiths* contra os protestos pacíficos dos Seres Abissais, vítimas de uma civilização sem rumo
Sobre essas internações compulsórias dos crackeiros ou crackudos, como são chamados, que estão ocorrendo sem autorização de seus familiares, são atos autoritários da mesma monta que a repressão das ditaduras árabes à população que protesta. As autoridades não têm a mínima noção do que estão fazendo e parecem estar sendo erroneamente orientadas.
Estão violando a constituição e as normas que existem para internação compulsória. Será que funcionário público não entende que precisa de ajuda dos movimentos sociais no campo das drogas para tratar corretamente do “problema das drogas”? Será que não percebe que sem estratégias de redução de danos está deixando de lado uma ferramenta valiosa para resolver o problema? Será que não percebe que não vai dar certo? O pior é que não!
abço,
Luiz Paulo
Diretor, Psicotropicus
*Smiths (aquela turma do mal do filme Matrix, engravatada em ternos escuros)
Um comentário:
É incrível que a redução de danos sofra essa discriminaçao de parte de profissionais de saúde que lidam com usuários de drogas. Como as pessoas demoram para compreender novos parametros e novos paradigmas. C'est la vie.
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