WASHINGTON – Ao anunciar, nesta terça-feira, o novo  plano nacional do governo de combate às drogas, o presidente dos Estados  Unidos, Barack Obama, procurou acenar com uma mudança de abordagem do  sempre polêmico tema. A estratégia elaborada pelo diretor do  Departamento de Política Nacional de Fiscalização das Drogas (ONDCP, na  sigla em inglês), Gil Kerlikowske, alcunhado como o czar antidrogas do  governo Obama, tenta desviar o foco da questão da Justiça criminal para a  saúde pública. Em resumo: mais prevenção e tratamento, mas sem deixar  de lado a repressão, doméstica e no exterior.
- Essa estratégia apela a uma abordagem equilibrada na confrontação  do complexo desafio do uso de drogas e suas consequências – resumiu  Obama.
.A intenção da Casa Branca é mudar o discurso bélico e repressivo de  “guerra contra as drogas”, estimulado nos anos de governo George W.  Bush.
- É uma doença, é diagnosticável e é certamente algo que pode ser  tratado, mas não é uma guerra. Muda toda a discussão sobre terminar com a  guerra contra as drogas e requer que temos a responsabilidade de  reduzir nosso próprio uso de drogas neste país – disse Kerlikowske.
O plano estabelece vários objetivos em um prazo de cinco anos, entre  eles o de reduzir o uso de drogas por adolescentes em 15% e, entre  adultos, em 10%. A meta também é diminuir o número de usuários crônicos  em 15%, a incidência de mortes provocadas pelas drogas em 15% e a  frequência de condutores de veículos drogados em 10%. A nova política  pretende incentivar programas comunitários e expandir o tratamento  dispensado aos viciados em drogas, incluindo centros médicos comuns,  além dos especializados.
Para cumprir o prometido, o governo federal aumentou em 3,5% os  recursos para o combate ao abuso e ao tráfico de drogas, um total de U$  15,5 bilhões para o próximo ano fiscal, que começa em outubro. A  política de prevenção contará com U$ 1,7 bilhão, um aumento de 13,4%. Os  fundos destinados ao tratamento receberão U$ 3,9 bilhões – mais 3,7%.  Para combater o tráfico, o aumento será de 1,9%, U$ 3,9 bilhões, sendo  U$ 579 milhões para a Força-Tarefa para o Cumprimento da Legislação  sobre Droga e Crime Organizado (OCDETF, na sigla em inglês), que atua  principalmente no sudoeste dos EUA.
O novo plano descarta a descriminalização da maconha – embora reforce  as garantias para seu uso medicinal – invoca a reforma da política de  drogas com o fim da disparidade criminal entre o crack e a cocaína e  desestimula o encarceramento para a maioria dos usuários, apontando para  programas comunitários e alternativos para evitar a prisão como  primeira opção.
Analistas criticam o fato de que o novo plano mantém a ênfase no uso e  não no abuso de drogas e que a prevenção e o tratamento ainda são  minoritários no destino de recursos – 36% contra 64% para as medidas de  combate. Matthew Robinson, especialista em política de drogas da  Universidade dos Apalaches, acredita que o novo plano da Casa Branca  ainda é tímido em propostas de mudanças, mas também aponta algumas  virtudes:
- O plano reconhece que o vício em drogas é uma doença e especifica  que a política federal de controle de drogas deve ser assistida pelas  diferentes partes envolvidas, incluindo famílias, escolas, comunidades,  médicos. Isso é certamente uma mudança em relação ao governo Bush, que  repetidamente caracterizava o uso da droga com uma falha moral ou  pessoal – disse.
FONTE: 
http://www.psicotropicus.org/noticia/5859