Thiago Alexandre Moraes escreveu (em seguida, abaixo, reflexões sobre o assunto):
Olá a todas e todos,
Faltam poucos meses para Maio e, no Brasil, várias cidades estão
trabalhando com toda energia para organizar as edições brasileiras da
Marcha da Maconha. De norte ao sul do país, são variadas as experiências,
dinâmicas de funcionamento, opiniões e visões de mundo - ainda assim, a
necessidade de discutir e debater as políticas proibicionistas em torno da
maconha, torna estes vários coletivos em um grande organismo político que
tem tido sucesso em pautar a questão das drogas na sociedade brasileira.
Nós, do Coletivo DAR - Desentorpecendo a Razão -,
partimos de uma perspectiva sistêmica para observar a questão das drogas e
compreendemos que, muito embora seja importantíssima, a discussão e as
manifestações sobre a maconha não encerram, por si só, a questão das drogas
que hoje está colocado em nossas sociedades. Não só a maconha deve ter seus
ciclos de produção, distribuição e consumo regulamentado e legalizado -
acreditamos que todas as drogas devam também ter seus ciclos econômicos
legalizados e acreditamos nisso porque compreendemos a questão das drogas
de como indissociável do conjunto geral de questões e crises sistêmicas das
sociedades.
*"Apesar do Coletivo DAR ter se formado a priori a partir da negativa do
proibicionismo, ele se coloca também na negativa do sistema no qual estamos
inseridos, incontestavelmente desumano, injusto, inaceitável. Dentro do
antiproibicionismo não nos abstemos de ideais de transformação social.
Defendemos uma perspectiva antiproibicionista sim, mas também libertária,
anticapitalista, antiautoritária, antimercadológica. Que pense poder,
repressão, saúde, teoria, organização, Estado, classes, gênero. Ainda que
nosso foco de atuação seja na luta pela legalização de todas as drogas, nos
vemos dentro de um âmbito mais amplo de luta por outra sociedade, ao lado
do movimento feminista, LGBTT, da luta antimanicomial, ambiental, por
mobilidade, livre expressão e manifestação do pensamento e de tantos outros
que estão resistindo e buscando um mundo melhor."*
*
*
Nos últimos dias, aqui no Brasil, em nossa caminhada rumo à Marcha da
Maconha 2012, nos deparamos com uma polêmica a respeito da utilização da
imagem de mulheres para o financiamento da marcha deste ano no Rio de
Janeiro, que pretendemos explorar na direção de qualificar os debates
antiproibicionistas e de estreitar laços, articulações e agendas com os
movimentos feministas. Em nosso blog, postamos um posicionamento a respeito
da questão - Sexismo na Marcha da Maconha? Não em nosso
nome!
Ainda em nossa caminhada para a Marcha da Maconha, teremos a oportunidade
de dialogar de modo bastante próximo com as feministas - no próximo dia 8
de Março irá ocorrer em todo mundo a Marcha Mundial das Mulheres. Com a
intenção de dar continuidade às reflexões feitas e às possíveis
articulações, estamos preparando uma terceira edição do jornal periódico de
nosso coletivo - *O Antiproibicionista*, que nesta edição especial será
chamado *A Antiproibicionista*. Além de informações a respeito das formas
como a proibição das drogas afeta o cotidiano das mulheres, o jornal terá
textos que debaterão a atual conjuntura em torno destes dois temas
importantes. A fim de avançar na integração internacional e alimentar
algumas articulações feitas durante estes anos de atuação conjunta,
propomos a colaboração de militantes dos diversos países, na forma de
relatos rápidos a respeito da participação das mulheres no cotidiano do
movimento antiproibicionista. Nossa intenção é juntar estes pequenos
relatos (algo como um parágrafo, não mais) e traçar um panorama
internacional da participação delas no movimento. Faremos uma coluna
especial em nosso jornal.
Aguardamos ansiosos pelas contribuições de todas e todos aquelas que têm
construído o movimento antiproibicionista global e agradecemos desde já a
atenção.
Saudações antiproibicionistas,
Coletivo DAR - Desentorpecendo a Razão
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Salve Thiago
Gosto nesta reflexao do coletivo, dessa interrelaçao de caracteristicas da vida social que se juntam e transformam a vida num verdadeiro inferno social. Quando o vice-rei da India perguntou a Mahatma Ghandi do alto das escadas do palacio de Buckingham em Londres sobre o que ele achava da civilizaçao, ele respondeu que era uma boa idéia. Somos escravos da história e o mundo está muito longe do que pessoas como vc e eu pensamos. Somos escravos da história, disso nao temos como escapar: estamos no mesmo dia, no mesmo mes, no mesmo ano, independente da forma como contamos o tempo. Mas podemos e nao queremos ser escravos de uma sociedade que reproduz um sistema, nas suas palavras e com as quais concordo, "incontestavelmente desumano, injusto, inaceitável".
A luta por uma vida digna, pelo estado de direito, por justiça social, redução da desigualdade, preservação do meio-ambiente, direitos dos animais, direitos humanos, cidadania e eliminação da miséria, entre tantas outras, se expressa pluralmente. As agendas - embora focadas em determinado âmbito da realidade que grupos informados percebem claramente que precisa ser reformado ou transformado - deve ser inclusiva. No nosso caso, o principal aspecto em que focamos nossos esforços é uma politica de drogas que percebemos fracassada e estupidamente errada. Somos antiproibicionistas e queremos o fim da guerra às drogas. Mas tambem somos favoraveis e defensores da descriminalização do aborto, da luta antimanicomial, do fim da imunidade parlamentar e da corrupção - toda uma série de opressões, privilégios espúrios e enganos que tornam a vida e a vida social um mar de lama e sangue no qual diariamente nadamos contra a corrente para buscar manter nossa dignidade e saúde.
Os antiproibicionistas podem talvez ser os abolicionistas do nosso tempo, mas o tempo é implacável e cruel na história. Os escravos negros vindos da África para a América foram libertados, mas qdo constatamos que a maioria dos condenados pelas leis de drogas sao negros e pobres, indagamos se a abolição da escravatura foi plenamente realizada. O regime proibicionista de controle de drogas é inaceitável, tem de ser abolido, é preciso tirar das prisoes certamente mais de um milhão de usuários que em todo mundo sofrem com a injustiça da lei de drogas que os pôs ali dentro. E estes têm de ser compensados pelos anos de vida que perderam ou estao perdendo, suas condenações têm de ser todas revistas e elas e eles têm de ser indenizados. Como as vítimas da ditadura brasileira foram indenizadas.
Sobre o calendário, nao vejo uma agressao às mulheres, inclusive todas com quem falei e que sabiam dessa discussao, nao se sentiram de modo nenhum ofendidas. Seria interessante ouvir uma que tenha se ofendido, este é um assunto mais delas.
Saudações psicotrópicas,
Luiz Paulo Guanabara
Psicotropicus - Centro Brasileiro de Política de Drogas
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Como colaborar com o Coletivo DAR
*O que? *
- Colaborar com relatos rápidos a respeito da participação das mulheres no
movimento antiproibicionista nos diversos países;
*Como?*
- Enviando estes relatos para contato@coletivodar.org , em formato de texto
digital (DOC, TXT, ODT, etc) - não maior que um parágrafo;
- Daremos preferência aos relatos enviados por mulheres e por coletivos;
*Quando?*
- Nossa proposta de prazo é XX de YYYY;
*Perguntas orientadoras:*
- Existem mulheres participando ativamente? Quantitativamente, qual a
proporção entre elas e eles na participação?
- Quais papéis têm sido exercido pelas mulheres?
- Igualdade, protagonismo, opressão, respeito, oportunidade e coletividade
- como se relacionam estes conceitos, em relação à participação das
mulheres?
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